20 de fevereiro de 2011

fogo, circo e folhas.

Circo, palhaços e lona. Palhaço pegando fogo!... Aí já muda! Aí sou louco, em compulsão homicida, pois nada disso deve acontecer. Um homem tunisiano ateou fogo em si, e revoluções entorpecidas efervesceram. Se um palhaço toca fogo em si mesmo, o nariz cai... é  a mesma coisa, e todo Clown sabe disso.
Passei de ônibus numa rua ensombrecida por árvores, pus a mão para fora, consentindo-a largada ao vento. E de tantas folhas puxei uma, e ela arrancou-se, sem modos; mas a árvore, toda ela, ficou. Não tirei nada do lugar; incluí a mim. O circo custava sete, seria as sete, e havia sete motivos para não ir, sob pena de ter sete anos de azar.
O acrobático já tinha se apresentado num programa televisivo, e no mesmo canal do programa tinha passado a noticia do tunisiano. E a árvore, ficou comigo. E quando abro a janela, escondida atrás de um poste e uns fios, e umas placas, a vejo. Ela é verde de dia, e roxa à noite; cinza na chuva, e enferrujada ao sol. Em minhas mãos seu ex-pedacinho está secando, me vem uma comoção incancelável. Algo está voltando a sua seiva descendente, e por lá passei.



[Robson W.]

17 de fevereiro de 2011

Sem um Cofap


    Ele chega. Quando ele vem, não há descrição que se enquadre. Poderia fazer disso um diário; quem sabe revelações. Poder contar que tenho uma inflamação nas costas de um pedaço de alguma coisa que tentei arrancar. Saiu muito sangue, e nem acho que penso em curar; posso até pensar em saná-la, mas não penso nisso.
    Quando fui ao curso sangrou quando sentei e encostei-me na cadeira acolchoada de lã azul; fui ao banheiro; tirei a camisa; lavei a parte conspurcada; entrou alguém e me escondi atormentado. Queria secar no secador de parede que não tem nome. Pensei que... com o sol... secaram as flores. E quando ele vem, tudo é estranho. Não... não, agora... pensando bem mesmo... é mais curioso. Um desconhecido que entra sem bater e sai sem falar.
    Perfumes, perfumes, quero todos fora do quarto, mas ele me lembra de longe alguém, e preciso lutar pra reconhecer todos os dias.  No curso nos dizem que devemos traçar metas, e deveria pensar em uma empresa, no meu negócio, como eles ensinam, bem. Pensei num “cachorro-salsicha”, pensei tanto que fui descobrir que era Cofap, o nome da raça.
    Deveria idealizar meu carro 0km, estar boiando em dinheiro, minha loja prosperando, e uma família sorridente ao meu redor. Mas como preciso de um Cofap marrom. Minha prima fez aniversário e talvez nem tenha espírito para comemorações, sei que seria menos do que poderia ser. Tenho atualmente uma namorada alegre e jovial, ela me diz que está comigo: - “Estou com você amor!”. E eu quase choro nessa. Mas só depois (que quase choro). Lamúrias pra mim são reservadas, porque realmente não acho gratificante perturbar ninguém, ou ao menos poucas pessoas. Já senti que algo estava acabando, como um ciclo mesmo. Mas como é engrandecedor descobrir que esse algo já se foi há anos, e a minha estrutura tão crédula foi capaz de projetar uma mudança durante os mesmos tantos anos.
    Ele chega, mas sinto profundamente que um dia, não chegará. Alguns escolherão esperar. Outros viverão fugindo. E quantos, sem um Cofap, sós?!


[Robson W.]