20 de dezembro de 2010

Dará tempo ...


Que estou fazendo aqui?
Desimportante.
Não, ele não vai me satisfazer em nada. Eu... ah! Que tempo jogado fora
já se foram 20 segundos.
Fale pois! ... Fala o que é!  
...
Me aborreço com esses pontinhos sabe. Tá bom, como for... re-ti-cências! Mas não passam de três pontos!
E pensar que ele já está fazendo outra coisa, e eu nessa, lendo, praticamente, nada! E eu aqui, nem sei se decodifico isso ou me ouço.
Eu bem que poderia estar em outro lugar!... Não me agrada em nada esse tipo de passa-tempo.
E outros já estão noutro negócio. Quantos aprendem línguas.
E quantos deles viajam o mundo.
E destes, quantos cruzaram por mim?
...
Ai esses pontos! ... Ah, são pontos mesmo! Pontos e pronto!! ... pontos improfícuos de expectativa. Que seguem o que vejo. Eu leio e sou, e não faço outra coisa.
E eu ainda aqui... um minuto!!
E meus filhos crescendo, na idéia dos filhos que gostaria de ter. E minha mãe morrendo, e eu não lhe perguntei se ela realmente amava papai ou se acomodou naquilo tudo. A árvore que plantei, foi cercada pelo muro alheio. Ela me olha e cresce, e acena pra mim.


...


Não quero ficar aqui... mesmo,  vou embora!


...
Parece que já perdi o bastante pra ir antes do fim.
Existe algo que me faz ficar nos cantos, e as pessoas vão passando; eu com tantas coisas pra fazer, e paro, e fico olhando, e deixando perder, perder ... o que?! ... E se a melhor vida for a que olhamos?!
Caminhei. E  casa continua sendo fácil de escrever, entender e desenhar.
Parto, agora, e dará tempo...
Já perdi o bastante pra ir antes de entender alguma coisa. Agora talvez, melhor seja o “se deixar levar”.
Quanto tempo faz que não falo com...
Que bons tempos!
Parece que a gente não faz nada de mais quando se faz com prazer. Talvez precise de mais prazer... É!
Já me perdi sobre o que esperei aqui. Tantos discutem, concorrem, glorificam... se amordaçam.
Tudo que está na minha mente não sei falar. Coisas, gestos, cenas sem título. Penso ser menos do que sei, e bem menos ainda do que não sei.
...
Ouh!
...
Três engraçados rostinhos sorridentes!






[Robson W.]

17 de dezembro de 2010

Há algo em nós, que se te falasse...




          Se te falasse o que é, se dilataria pelo ar. Não cabe mesmo nas frestas dos precipícios, nem em nenhum compartimento, ou cela, ou em qualquer lugar que caiba algo. O escorpião desértico imobiliza a presa mais terna, de consternação, a atinje e a ama, sim, durante a menor fração possível de vida antes que ela desfaleça - há algo em nós que desenriquece nosso coração; e se falasse de que se trata, se proliferaria por entre os povos. Não sai de nossos poros; mas é tão seu, e meu, que nos tem como genitores.

         Passamos duas vezes pelo caminho do amor, e não olhamos; três, e não vemos; quarto, cinco, em vão. Existe uma inferiorização que damos a nosso espírito, que certos caminhos de amor se ocultam diante de nos.
         O escorpião não sabe mais porque se protegeu usando um ataque tão mortal; o doce animal só lhe cheiraria a negritude da casca. Talvez lhe levasse nos ombros para altos vôos, se fosse ave, ou o levaria para outros mundos se tivesse boas patas. Existe algo em nós, que não se permite ir muito além de dois passos à frente. E se te falasse o que é, violaria o que ainda existe de indomável na terra. O gentil animalzinho tem ainda um resfolegar breve e inconstante, e é chegada a hora da rendição da alma. Há algo em nos que se perpetua na vastidão das coisas; partes essenciais do nosso ser compactuarão com o eterno; e sem nossa gentil vinda, este mundo não seria o mesmo mundo.
          Enquanto isso, o viril artrópode esconde-se sorrateiramente entre os buracos nas rochas,  atrás de arbustos secos da vegetação nativa. Há algo gritante em nós que nos desabita. E se te falasse o que é, você se conheceria rápido demais.


[Robson W.]

13 de dezembro de 2010

Faíscas na escuridão




 No início do dia estamos num lado infinito do universo; à noite no outro. Extraviados nesta boleada prisão gravitante. Saímos de nossos casinholos, desentocados; controversos.  Convencidos de que somos um resultado extraordinariamente digno da natureza. Convictos de que, um passo torto ou ao passe de mágica voaremos órbita afora. Nossos prazos estão em constante prorrogação com o que damos de tempo para nos mesmos. E ainda assim, estamos colados no mais distante de algum final que acaso existiria. Aqui, não somos capazes de vôos autônomos; fora de onde vivemos, é possível. Podemos respirar onde estamos; fora de onde vivemos tudo pode ser asfixiante.
 Obtivemos nossa vivacidade fosfórica divinizada. Assegurada por tudo aquilo que não atingimos; aquilo que existe fora de nós. Imodestos por sermos filhos ou criação de algo elevado e inalcançável, contidos a própria incapacidade que há diante de tudo. Daquilo que há de mais oculto, só nos chegam faíscas... na escuridão.


[Robson W.]


9 de dezembro de 2010

Teus olhos como consolo





Seus olhos eram duas civilizações brilhantes;
E ainda são, já que permanecem inextintos e infalsificáveis na minha frente, como lagos.
Transpondo o tempo que gostaria de revelar.
Imoladores da matéria.
Interessado, para mim, adentrar era fácil; remover-me, admirável.
Lenteava toda minha novata mundividência.
Cristalizava-se, naquilo só. Imaculado nas próprias represálias; olhos, mais que vista; que presságios do que está à frente.
Olhos, mais que o mundo afora.
Um par de algum ente com trancas;
Quando pisco, ainda existem; infringindo o que noto, insistem.
Minha mundanidade amofinada rebentará, se destrancados; presumo. Me verei no obscurecido do que restar; Juvenecer por fim.
Apesar de tudo que não são eles, não terem capacidade de sê-los; tudo que não são eles, são, como consolo, menos perdidos.
Olhos teus, boa parte de tudo que querem encontrar.
Vãos teus, algo escavado e esquecido. Parte sua; só peça sua.
Somente olhos, destroços do que seria algo.
Olhos, onde deveriam haver cacos.
Além do que via, olhos; maiores do que sei.



[Robson W.]

8 de dezembro de 2010

Traço do coração


Você se sente comparsa de tudo que acontece?
Aquele amor era seu.
Você não o agarrou entre os braços somente porque ele não desceu numa nuvem.
Achando ser o melhor aquele que chegasse como o mais belo e compatível.
Não espere que a tempestade apareça para se perguntar onde estava o sol. O feriado não é teu único dia livre. Seus passos já estarão no paraíso quando você começar a acreditar em sua existência. E ele será da forma que você sempre imaginou quando entrares no recinto desejado.
O lugar que sonhamos não tem portas nem nada que foi criado pelo homem. É mais simples que os códigos, e mais confortável que a maior das tecnologias. E nem repousaria mais longe que o nosso lado.

Há de se sacrificar sim. Tirar as vestes e recriar-se da nudez absoluta.
Mudar um gesto envelhecido,
qualquer que seja,
é equivalente refazer toda uma nova trajetória.
E para alguns, este é o sacrifício mais indesejável de todos.
Mudar o erro que mais amamos.



[Robson W.]

4 de dezembro de 2010

Ascender-se


Fumei uma pessoa, todinha, dos dedos a barriga, antes de ontem. Enquanto a sugava, ela me olhava com tristeza de despedida.
Transformei seu ser, pouco a pouco, em cinzas. Sua cabeça foi ficando vermelha de desejo, depois de certo tempo de tragada. E seus braços brancos ferviam em agonia. Mas era tão bom sacrifica-la, baforadas anunciantes. Depois que se fosse totalmente, o feito se tornaria quase preciso.
Era bandido tal ser, nem merecer viver queria, então, foi meio desejo da mandante, outra metade querer meu. Ela me deixou ser seu ultimo dono; fui comprado no início, mas depois de um segredo fiz o trabalho de graça. Fiz sim, este prazer imundo. Diria até: - que transa perfeita tive antes de ontem! Uma transa de dedos e boca. Tudo durou alguma vida, um pouco de tempo jogado fora, nada mais. Seus pés na minha boca, pequenos e balançantes. Depois da gozada, no fim de uma atrasada baforada, eu a depositei na terra, fiz uma barriguinha de cova e uma cruz acima com o dedo. Que tragadas dei antes de ontem! Que tragadas!



[Robsn W.]

Assombro Vital


Os que não ouvem invisíveis correntes arrastando-se em gemidos, também não ouvem
gemidos arrastados em correntes divisíveis.
Os que não vêem mãos ensangüentadas em baixos muros de casa abandonadas, decerto
também não enxergam altos muros com mão molhadas e mãos abandonadas.
Os que não sentem algo a bater na porta depois da meia noite
não sentem a batida de algo sem porta durante as mesmas noites.
Enfim, é admirável o perpétuo próximo ao fim.
Pois ter uma vida não é tarefa fácil.
É como se, ao nascer você, ao mesmo tempo carregasse em si um feto insano.





[Robson W.]

TeVe



Vou desligar isso,
Teve é uma loucura,
Preciso saber a verdade
do que há na rua.
Se eu não amasse,
ao ver atração sua.
Se eu não desprezasse,
toda sua conjuntura.
Te ver é uma loucura.
É ter visto, somente.
Desligar sim,
Para angustiar-me na realidade nua.
Antes,
que perca a mente
Antes,
que eu não seja.
Antes,
que não haja controle.
Antes ,
que de mim não flua.


[Robson W.]

2 de dezembro de 2010

Pássaros por mim


Às 04:37 os pássaros me acordaram esta manhã.
Onde estiveram às 04:30 enquanto ainda sentia a noite densa?
Viram-me a trocar a roupa;
a lavar a face;
a preparar os pés;
a engomar a alma;
a gritar meus soluços; a esperar as horas;
a levantar a cabeça, a cavar os 'Bom dia!';
a recorrer aos atalhos;
a brindar os amores;
 a esquecer os passados.
Às 05:00 sei que eles me esperarão nos postes, pois sabem onde tomo minha condução.
Acompanharão meu trajeto como querendo aprender a andar.
Pelos cantos ficam a observar meus movimentos; observam meus centímetros, interessados na maneira como uso meus braços; como roço a boca em sinal de agrado; Em como me locomovo analisam intrigados, por estar solto pela gravidade.
Na biblioteca, ao lado da praça, me vêem ler os artigos, as revistas; e a vê-los retratados.
Observam-se nas folhas debaixo das árvores.
Nas frutas jogadas no chão,
nas laminas flutuando nas poças;
Escoltam meus olhares atentamente fixos nas pernas dos outros;
na cabeça das casas;
na pontinha das telhas;
na vontade do vento;
no interesse rio;
no vasilhame abandonado.
Andar sem parar todo dia; voar sem andar é o alvo.
E volto de onde vim; por onde cheguei; entretanto por um outro caminho.
Sempre deixando novas migalhas, para ter atrás de mim asas que bisbilhotam minha existência.
Pássaros de fazer dormir,
pássaros de janela;
aves de campo e aves de praças, todas em espanto.



[Robson W.]