18 de dezembro de 2011

Você, meu tempo e meus motivos.

Desejo de vir
e dizer 
que quero
dois mil e doze motivos.
E que não irei te buscar amanhã.
Pois eu não tenho sido aqui, 
no sempre,
nem há muito tempo atrás.
O tempo é maior do que é possível se pensar dele.






Robson W.



22 de março de 2011

Balada nossa - sobre cacos.


Você que não foi. Só não está aqui.
Tu
ausente,
de cigarros e prédios.
Gigantes brancos, sob capas e sonhos.
Meus tremulamentos.

Saímos cadentes em tantos espaços.
Você desatenção;  eu te olhando.

Imagino às vezes:
se eu mais demonstrasse?!
Quão interessante!
Se acaso dissesse:
"Olhava tua sombra."
Te olhava no banho,
somente apetecera.
Talvez te tivesse num sono intranqüilo
de serenidades; rabiscos de risos.
De redes à noite;
juras hesitativas.

Te escreveria.
Você já me encontrava.
Em lapso tocava
a alma da noite.
Sob raio da raiva você em espanto
me descobriria,
azuis de tristeza nos despidiríamos.
À cada esquina.
Nossos pontos marcados.


Gentil te relembro
Tua tatuagem.
Pequena, ousada.
Afrontadora de destinos.

É chegara a hora,
Fiel; esperada.
Resguardas meu sono.
Aquém, absorto,
de teus amicíssimos.
Por ti de repente
me cadenciava.

Suspiros quietos.
Mistérios, fatais.
E ainda nos resta
a balada noturna.
Por cima dos cacos.
Só quase intransponíveis.





[Robson W.]

21 de março de 2011

Colina


O amor talvez seja mesmo como uma pilha gigantesca de trecos, onde encontramos um pouco de tudo. Treco-apego, treco-saudade, treco-zelo, treco-afago... etc. E outras bugigangas que não teriam muito a ver com todo o empilhamento dos dias... treco-desconfiança, treco-egoísmo, treco-inflexibilidade, todos amontoando-se no meio de tudo isso, que pode-se fazer?!
Curiosos, os amantes - iniciantes sempre - escavam, procuram, dentro da confusão certa e cega do amar. Achando certamente no meio desse amontoado de informações sentimentais, de experiências atraentes até as mais fúteis. Umas mais relevantes que outras.
Quantos trecos indispensáveis deixamos para trás, permitindo-os voltar a ser tesouro nas pilhas?! E quantos deveríamos ter guardado e guardamos?! ... E quais?! E, meu Deus! (sem drama)... porque?!
sempre achamos que escavando mais, vamos encontrar valores mais profundos, adequados e essenciais.
Pensando bem, tenho a impressão que não encontramos é nada. É tudo doado, do fundo do que não sabemos, por mãos que saem da “colina do amar”;
presentes; inesgotáveis; singelos; aborrecedores e sedutores trecos-submergíveis.
E não sei porque, não sei mesmo como. Que bom!
Abençoados aqueles que não mechem, demais, em muitas coisas. E procura avaliar cuidadosamente cada uma que lhe surge.
Abençoados aqueles que se satisfazem com a justiça eficaz que o amor sentencia.




[Robson W.]

Rebento das gérberas


Nós, que não fomos perdidos,                              
Que não somos esquecíveis.
Nós dois na multidão.
Teus
cabelos de mar
vermelho,     
levemente,
ondulado.
Laços cáusticos de beiços e têmporas,
Anzóis que fisgaram os meios da noite.
Brincos de lua; salvas de palmas.
Eterno
enquanto
dure.
Não esqueça: desde os olhos que pendurei nosso amor para que todos vissem até as perecíveis flores que ofereci para que não te fanassem, não havia menos, de todo amor que para nós ambicionei.
E quando te lembrares dos dias, esqueça tudo além de nós. Aí seremos perfeitos. Pois quando lembrar-me dos dias, nos verei eternos; além de nós.
Rebento das gérberas, de olhar afiado; em distancias pequenas de infelicidade.

Você se vestia, perfumava-se de segredos.
E olhava pra mim, e eu pra ti.
Depois tu vinhas de tuas longas distancias, e eu te buscava.
Minha mão para ti, tua mão para mim.
E tu me contavas, de tudo um pouco, e eu ria e chorava.
E tua lágrima para mim, meu sorriso pra ti.
Em todos estes momentos o ar se esculpia, por nós.
Quando quis enxergar todos como exceções, me excedi. Ao querer fazer de mim exceção, removi. E você me trouxe à tona - com seu vestido, e risos, e pele de aniversário – de amores cingidos. Com teu sorriso de “A vida é bela”, e olhar de “Menina de ouro”.
Mulher, que olhei dormir; sono leve, breves favos. Mulher de cafés da manhã, de maças roubadas; de olhares ao sol.
Menina, sem malinidades. Beijos de honra; artimanhas e entrelaces. Esperas no escuro. E aquela rua?! Qual a rua?! De onde fugimos; que nos encontramos. Onde tu vives. Que te aninavam.  Aquele caminho, quase teu.
E todos os planos, de interiores. Que não morreram apagados, como fogo molhado.
Carinho. Palavra que carecia.
A vida esteve asilada atrás do véu que fizemos. Mais que dolorosa e tonteante, pérfida e concreta.
Não há nada que deveríamos ter evitado, nem muito que poderíamos ter feito.
E tudo fora de nós abate-me e edifica-me, minha alegria.
Teu cheiro
sempre acima
do melhor aroma.
Você,
que foi mais
do que pensava.



[Robson W.]

5 de março de 2011

Tons do Galo


Fervilha
a festa.
O galo
de olho;
de crista;
Imponente.
Irreverente.
Nesta excelência
da raça.
A magia,
essa que convulsa,
amolga,
o povo.
O sol,
do dia novo.
O trinco
que destrava o grito.
A música;
O suor;
Os risos,
entre braços,
em meio aos tons
de vermelho Cádmio.
E eu,
Estarrecido.
Neste dia perfeito, para não se estar só.

[Robson W.] 

1 de março de 2011

Dia 1 de março

É dia um de março.
Dia do nascimento de Frédéric Chopin
E da morte de Ruy Barbosa
De um lado um pianista friamente Polaco,no outro um diplomata genuinamente brasileiro.
Nasceram e morreram dia primeiro, desde mês atípico de carnaval.
Fim da Revolução farroupilha;
da guerra do Paraguai.
Finais, no começo do mês do carnaval.    
Ataque cardíaco de Stalin.... falecimento.
Reformulação da constituição finlandesa.
Batalha do mar de Java.
Dia internacional da proteção civil.
E eu, nasci aqui.
Quê mais?! Quê mais?!
Nesse mês, que mês!
Que gentil, sambado e triunfante mês de carnaval!


[Robson W.]

20 de fevereiro de 2011

fogo, circo e folhas.

Circo, palhaços e lona. Palhaço pegando fogo!... Aí já muda! Aí sou louco, em compulsão homicida, pois nada disso deve acontecer. Um homem tunisiano ateou fogo em si, e revoluções entorpecidas efervesceram. Se um palhaço toca fogo em si mesmo, o nariz cai... é  a mesma coisa, e todo Clown sabe disso.
Passei de ônibus numa rua ensombrecida por árvores, pus a mão para fora, consentindo-a largada ao vento. E de tantas folhas puxei uma, e ela arrancou-se, sem modos; mas a árvore, toda ela, ficou. Não tirei nada do lugar; incluí a mim. O circo custava sete, seria as sete, e havia sete motivos para não ir, sob pena de ter sete anos de azar.
O acrobático já tinha se apresentado num programa televisivo, e no mesmo canal do programa tinha passado a noticia do tunisiano. E a árvore, ficou comigo. E quando abro a janela, escondida atrás de um poste e uns fios, e umas placas, a vejo. Ela é verde de dia, e roxa à noite; cinza na chuva, e enferrujada ao sol. Em minhas mãos seu ex-pedacinho está secando, me vem uma comoção incancelável. Algo está voltando a sua seiva descendente, e por lá passei.



[Robson W.]

17 de fevereiro de 2011

Sem um Cofap


    Ele chega. Quando ele vem, não há descrição que se enquadre. Poderia fazer disso um diário; quem sabe revelações. Poder contar que tenho uma inflamação nas costas de um pedaço de alguma coisa que tentei arrancar. Saiu muito sangue, e nem acho que penso em curar; posso até pensar em saná-la, mas não penso nisso.
    Quando fui ao curso sangrou quando sentei e encostei-me na cadeira acolchoada de lã azul; fui ao banheiro; tirei a camisa; lavei a parte conspurcada; entrou alguém e me escondi atormentado. Queria secar no secador de parede que não tem nome. Pensei que... com o sol... secaram as flores. E quando ele vem, tudo é estranho. Não... não, agora... pensando bem mesmo... é mais curioso. Um desconhecido que entra sem bater e sai sem falar.
    Perfumes, perfumes, quero todos fora do quarto, mas ele me lembra de longe alguém, e preciso lutar pra reconhecer todos os dias.  No curso nos dizem que devemos traçar metas, e deveria pensar em uma empresa, no meu negócio, como eles ensinam, bem. Pensei num “cachorro-salsicha”, pensei tanto que fui descobrir que era Cofap, o nome da raça.
    Deveria idealizar meu carro 0km, estar boiando em dinheiro, minha loja prosperando, e uma família sorridente ao meu redor. Mas como preciso de um Cofap marrom. Minha prima fez aniversário e talvez nem tenha espírito para comemorações, sei que seria menos do que poderia ser. Tenho atualmente uma namorada alegre e jovial, ela me diz que está comigo: - “Estou com você amor!”. E eu quase choro nessa. Mas só depois (que quase choro). Lamúrias pra mim são reservadas, porque realmente não acho gratificante perturbar ninguém, ou ao menos poucas pessoas. Já senti que algo estava acabando, como um ciclo mesmo. Mas como é engrandecedor descobrir que esse algo já se foi há anos, e a minha estrutura tão crédula foi capaz de projetar uma mudança durante os mesmos tantos anos.
    Ele chega, mas sinto profundamente que um dia, não chegará. Alguns escolherão esperar. Outros viverão fugindo. E quantos, sem um Cofap, sós?!


[Robson W.]

20 de janeiro de 2011

Tu que nem sabe onde está.


Folhas movem-se atrás de mim.
Papel, só pedaço cortante de árvores calhadas.
Não corre vento de fora, mas algo re-lê o que não é escrito.
Tudo o que digo pode não ter significado;
sair da habitação também.
um risco numa parede, possivelmente.
Ah você! Que não tem mãe.
Ah você! Que nunca mais voltou.
Que nos amou. Ai Você!
Somos a argila,
e dentro dela há coisas que não sabem quem somos.
E nós, por sua vez, não sabemos onde elas terminarão.
São milésimas partes de luminares que não devemos contar. 
 Asas.
 Bebês que não nascem.
      É como incendiar-se sem causa.
      E você que não nos vê.
      Tu que nem sabe onde está.
      Você, dentro de você; que lê nesse momento eu, dentro de mim.
      Inverta-se.
      Demonstre-se ao globo ocular.






Ps. informativo: Quadros do pintor surrealista Nova-iorquino - magnífico - Steven Kenny. "Sua arte surrealista é uma combinação do humano com elementos da natureza, valorizando a nossa relação com o meio ambiente e também fazendo uma alusão simbólica às dinâmicas da natureza humana em geral."

[Robson W.]

Nem te odeio, nem te amo.

Gosto de imaginar o que você está fazendo,
mas talvez não sejamos mais conhecidos.
Sabe, elos. Sair, telefonar, preocupar-se até; coisas assim.
Destrutível esse pensar.
Ontem adorava sua companhia,
hoje nem te odeio nem te amo, imagine.
Nem te odeio, nem te amo.
Nem te odeio.
Nem te amo.
Vê!
É quase não ter existido; qual coisa de deixa poucos vestígios.
Risadas: passado.
Abraços: passado.
Histórias: passado.
Porres, loucuras, gracejos, malícias, sonhos, que seja.
Adaptado.
Transposto.
Repito e repetiria... passado.
E é mais profundo que ser algo triste, é quase ser feliz.
Como cavar, cavar, e chegar do outro lado do mundo.

O “não estar mais junto” vem impregnado de uma renovada vivência.
E é mais indiferente que deixar de lado, é quase aproximar.
Como afastar para bem longe, depois se virar para o outro lado, e o mundo ser redondo.

Não há saída para o esquecimento;
E é mais inconseqüente que arriscar tapar com tijolos;
é não encobrir os furos.


[Robson W.]

11 de janeiro de 2011

Secretum



                                
Segredos. Acontecimentos que não divulgamos.
Gatos achatados na estrada que preferimos esquecer. Passamos tão velozes por eles, que quase continuam vivos.
Folhas que surgem numa sala fechada.
Fatalidade num balneário de carências.
É como guardar pra mim. E mais que dissimular de vós.
É a maior mostra de não querer algo, ou querê-lo muito. O oculto que desafiamos domesticar, e se torna intransplantável.
Aquilo que encobrimos e nos deglute pouco a pouco. É o que mais morre junto ao homem. Apodrece antes da carne. Agatanha nosso espectro.
Os mistérios que serpenteiam o pensamento.
É sentir numa marcação gotejante, que algo – espantoso - disso tudo é irrestritamente seu.
Psicanalista que respondemos, escravizado dentro de nossas estranhas; evacuado em nos mesmos.
“Sim, fiz; quis e pensei.”


É a incoerência universal existente entre não se conhecer e se conhecer excessivamente.
Confidências;
enigmas;
meditação em ondas eletromagnéticas.
Segredo. Embrulho para uma impecável maravilha intransponível ou descobrimento de uma abjeta gruta inabitada.
Segredo, desde o início, secretum.



[Robson W.]

6 de janeiro de 2011

Aros finais



Pálpebras caem;
ratos roem.
Não falarei deles.
Os homens disseram várias coisas.
África Austral parece-me encoberta com mais frialdade.
Um dia, pouco antes de irmos...
Perto de voltarmos... ouviremos algo que
nos fará entender a fundamental parte de tudo.
Linhagens ruem; rastros traem.
Lagos alternam-se, do fundo das rochas.
Casos verídicos, e nós não entendemos nada.
Soterramentos.
Qual raro aro do rabo do diabo.
Não alfineto ninguém,
só balanço.
Pra lá e por aqui. Pra cá e por ali.
Deus, desprende e sutura-me!
Vulcões de
ar.

Não
menos
intensos,
no inverno.
Engrenagem.
Se fosses meu.

Virá depois de nós
compensar-se.

Se afagasse.
Grava-me!
Mundo,
quase,
cruel.

Nua
fle-
xa.
Sou miúdo e não sei como surgi.
Só queria voltar a pintar, e escrever coisas.
Passar a noite na clareira.
Lua, às vezes
quase,
toda
minha.




[Robson W.]