20 de janeiro de 2011

Tu que nem sabe onde está.


Folhas movem-se atrás de mim.
Papel, só pedaço cortante de árvores calhadas.
Não corre vento de fora, mas algo re-lê o que não é escrito.
Tudo o que digo pode não ter significado;
sair da habitação também.
um risco numa parede, possivelmente.
Ah você! Que não tem mãe.
Ah você! Que nunca mais voltou.
Que nos amou. Ai Você!
Somos a argila,
e dentro dela há coisas que não sabem quem somos.
E nós, por sua vez, não sabemos onde elas terminarão.
São milésimas partes de luminares que não devemos contar. 
 Asas.
 Bebês que não nascem.
      É como incendiar-se sem causa.
      E você que não nos vê.
      Tu que nem sabe onde está.
      Você, dentro de você; que lê nesse momento eu, dentro de mim.
      Inverta-se.
      Demonstre-se ao globo ocular.






Ps. informativo: Quadros do pintor surrealista Nova-iorquino - magnífico - Steven Kenny. "Sua arte surrealista é uma combinação do humano com elementos da natureza, valorizando a nossa relação com o meio ambiente e também fazendo uma alusão simbólica às dinâmicas da natureza humana em geral."

[Robson W.]

Nem te odeio, nem te amo.

Gosto de imaginar o que você está fazendo,
mas talvez não sejamos mais conhecidos.
Sabe, elos. Sair, telefonar, preocupar-se até; coisas assim.
Destrutível esse pensar.
Ontem adorava sua companhia,
hoje nem te odeio nem te amo, imagine.
Nem te odeio, nem te amo.
Nem te odeio.
Nem te amo.
Vê!
É quase não ter existido; qual coisa de deixa poucos vestígios.
Risadas: passado.
Abraços: passado.
Histórias: passado.
Porres, loucuras, gracejos, malícias, sonhos, que seja.
Adaptado.
Transposto.
Repito e repetiria... passado.
E é mais profundo que ser algo triste, é quase ser feliz.
Como cavar, cavar, e chegar do outro lado do mundo.

O “não estar mais junto” vem impregnado de uma renovada vivência.
E é mais indiferente que deixar de lado, é quase aproximar.
Como afastar para bem longe, depois se virar para o outro lado, e o mundo ser redondo.

Não há saída para o esquecimento;
E é mais inconseqüente que arriscar tapar com tijolos;
é não encobrir os furos.


[Robson W.]

11 de janeiro de 2011

Secretum



                                
Segredos. Acontecimentos que não divulgamos.
Gatos achatados na estrada que preferimos esquecer. Passamos tão velozes por eles, que quase continuam vivos.
Folhas que surgem numa sala fechada.
Fatalidade num balneário de carências.
É como guardar pra mim. E mais que dissimular de vós.
É a maior mostra de não querer algo, ou querê-lo muito. O oculto que desafiamos domesticar, e se torna intransplantável.
Aquilo que encobrimos e nos deglute pouco a pouco. É o que mais morre junto ao homem. Apodrece antes da carne. Agatanha nosso espectro.
Os mistérios que serpenteiam o pensamento.
É sentir numa marcação gotejante, que algo – espantoso - disso tudo é irrestritamente seu.
Psicanalista que respondemos, escravizado dentro de nossas estranhas; evacuado em nos mesmos.
“Sim, fiz; quis e pensei.”


É a incoerência universal existente entre não se conhecer e se conhecer excessivamente.
Confidências;
enigmas;
meditação em ondas eletromagnéticas.
Segredo. Embrulho para uma impecável maravilha intransponível ou descobrimento de uma abjeta gruta inabitada.
Segredo, desde o início, secretum.



[Robson W.]

6 de janeiro de 2011

Aros finais



Pálpebras caem;
ratos roem.
Não falarei deles.
Os homens disseram várias coisas.
África Austral parece-me encoberta com mais frialdade.
Um dia, pouco antes de irmos...
Perto de voltarmos... ouviremos algo que
nos fará entender a fundamental parte de tudo.
Linhagens ruem; rastros traem.
Lagos alternam-se, do fundo das rochas.
Casos verídicos, e nós não entendemos nada.
Soterramentos.
Qual raro aro do rabo do diabo.
Não alfineto ninguém,
só balanço.
Pra lá e por aqui. Pra cá e por ali.
Deus, desprende e sutura-me!
Vulcões de
ar.

Não
menos
intensos,
no inverno.
Engrenagem.
Se fosses meu.

Virá depois de nós
compensar-se.

Se afagasse.
Grava-me!
Mundo,
quase,
cruel.

Nua
fle-
xa.
Sou miúdo e não sei como surgi.
Só queria voltar a pintar, e escrever coisas.
Passar a noite na clareira.
Lua, às vezes
quase,
toda
minha.




[Robson W.]