2 de dezembro de 2010

Pássaros por mim


Às 04:37 os pássaros me acordaram esta manhã.
Onde estiveram às 04:30 enquanto ainda sentia a noite densa?
Viram-me a trocar a roupa;
a lavar a face;
a preparar os pés;
a engomar a alma;
a gritar meus soluços; a esperar as horas;
a levantar a cabeça, a cavar os 'Bom dia!';
a recorrer aos atalhos;
a brindar os amores;
 a esquecer os passados.
Às 05:00 sei que eles me esperarão nos postes, pois sabem onde tomo minha condução.
Acompanharão meu trajeto como querendo aprender a andar.
Pelos cantos ficam a observar meus movimentos; observam meus centímetros, interessados na maneira como uso meus braços; como roço a boca em sinal de agrado; Em como me locomovo analisam intrigados, por estar solto pela gravidade.
Na biblioteca, ao lado da praça, me vêem ler os artigos, as revistas; e a vê-los retratados.
Observam-se nas folhas debaixo das árvores.
Nas frutas jogadas no chão,
nas laminas flutuando nas poças;
Escoltam meus olhares atentamente fixos nas pernas dos outros;
na cabeça das casas;
na pontinha das telhas;
na vontade do vento;
no interesse rio;
no vasilhame abandonado.
Andar sem parar todo dia; voar sem andar é o alvo.
E volto de onde vim; por onde cheguei; entretanto por um outro caminho.
Sempre deixando novas migalhas, para ter atrás de mim asas que bisbilhotam minha existência.
Pássaros de fazer dormir,
pássaros de janela;
aves de campo e aves de praças, todas em espanto.



[Robson W.]

Um comentário:

  1. Miguel, dominas de um jeito a arte de escrever, que me deixas até com vergonha, por teres lido as minhas palavras bobas. Parabéns, e não pare de escrever. Já sei o que ler nas minhas longas noites.
    beeijo!

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