25 de novembro de 2010

Brutal visão

          
           Esta noite tive um sonho estranho. Estava eu em um sinal, dentro de um carro, com ele parado. Eu me encontrava no banco do passageiro e quem dirigia o carro eu não sei. No entanto conversávamos muito, sobre meu futuro e minha vida, como ela seria mais para frente. Também sobre as decisões que teria que tomar e tudo relacionado a isso.
          O carro estava parado como disse, mas não havia outros carros ao nosso redor, apenas o sinal estava fechado, fechado estranhamente com o semáforo brilhando na cor verde. Não me pergunte o porquê, você deve saber como os sonhos são esquisitos. Mas sim, de repente, percebi que se aproximavam dois rapazes - ao longe - mas sabia pela silhueta e vestimentas que eram homens, e pelo andar se mostraram jovens eles. Continuei então a conversar com o motorista do veiculo que estava. Mas os homens estavam vindo em direção ao nosso carro, que ainda continuava parado, e comecei a descobrir como eram suas faces, e não eram agora tão jovens como aparentavam serem de longe. Tinham na faixa de uns vinte e oito a trinta anos.
            Seus olhares que continuavam na direção do carro, pareciam me conhecer, ou talvez o motorista. Chegaram mais próximo, eles não tinham andar apresado, eram moderados e objetivos, andar dos que buscam muito algo, muito parecidos com o meu alias. Estavam eles agora a uns sete metros de distância, essa era a distância necessária para que suas almas me atravessassem. Dessa distancia me assustei, pois já aparentavam ter uns quarenta anos e fiquei já muito atento.  Não conseguia mais desviar a atenção deles. A cada metro que vinham, era por volta de dez anos que neles se acrescentavam. Eu comecei a ficar aterrorizado com uma coisa tão fora do normal, e gritei ao motorista:

- Vamos, vamos, o sinal está verde há muito tempo, podemos ir!
            Mas não havia mais ninguém ao meu lado, e me lembrei numa fração de segundos que eu tinha parado o carro ali, e depois tinha ido para o banco do passageiro. E tinha ficado todo este tempo conversando sozinho, comigo mesmo, pensando que havia alguém ao meu lado. Então os que eram jovens se tornaram senhores e chegaram na frente do carro, agora sim o sinal eu podia ver vermelho; e eles então, com objetos finos como navalhas, avançaram para cima de mim, pelo vidro do carro que estavam abertos. E quando percebi que ele iriam me ferir, tentei fecha o vidro, porém por mais que rodasse a alavanca o vidro não subia, era tarde demais para qualquer reação.

Então cortaram meus braços, meu rosto e minha barriga, com várias “navalhadas”. Eu não gritava nem pedia socorro, pois sabia que estava só, apenas tentava me defender diante da brutalidade, dos jovens, que foram homens, e depois velhos.
Eles por sua vez, tinham sons de animais, em luta e violência, rufavam e gruíam. E seus olhos em nenhum momento de seus atos eram de maldade, eles continham a pulsação da tristeza, como se eles tivessem que fazer aquilo comigo, como se aquela fosse suas naturezas. Quando terminaram eles se foram, abatidos, mas sem nenhum choro ou lamentação. E eu fiquei só, com a respiração forte, adquirindo até um pouco do rufar deles.
            Fiquei um tempo ali parado, com o corpo inteiro sangrando, e então me perguntei:
- Porque tamanha força?! de onde vem essa seiva?!
Não fez sentido aquela minha pergunta “de onde vem?! a força?!”

Então uma voz ao meu lado me disse
- De ti! A culpa dessa força bruta é tua!
Quando olhei para o banco do motorista, lá estava eu, era como se me visse em um espelho com vida própria. Ele também sangrava muito.
- Você tem que saber a hora de ir e o que deve fazer!
E então ficamos conversando, conversando coisas que nem lembro mais.
De repente estava eu no barco do motorista, fui para lá sem perceber, pois mesmo mudando de lado, ainda continuei conversando comigo. Sabe, como carregar um recém-nascido enfermo, ele não percebe qualquer mudança e lugar porque sua pequenez contém pouca vida.
Olhei para o meu corpo, e vi que o sangue havia estancado, deixando enormes cicatrizes.
Fiquei parado, pensando. Olhei para o sinal, estava verde. E quando olhei para a esquina vinham dois rapazes, igual de longe com os anteriores, e uma voz gritou muito alto no meu ouvido, quase me ensurdecendo:
- Vai. É a hora certa para não acontecer, o segundo antes do segundo tarde demais!

E arranquei com o carro, dobrei a esquina, e os jovens, homens e velhos vieram correndo atrás, com sua triste metamorfose. E em todas as esquinas haviam jovens saindo delas, agora em trios, grupos, bandos, em famílias, em seitas, em organizações. Agora não só homens mas também mulheres, todos alterando-se com o passar do tempo. Me senti asfixiado, sem saída;  tudo ao meu redor fatalmente me brutalizaria. Acordei, animalizado.



{Robson W.]

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