23 de novembro de 2010

Cintilar momento

       
     Estava em cima da laje da casa, olhado as estrelas enfileirando-se em suas ligações quase impercebíveis. Estrelas são algo que não consigo esquecer. Assim como o rosto de uma das minhas primeiras professoras. Nilza, ela era linda, tão jovem e tinha um sorriso divertido. Será que ela morreu?! Não, não, não pergunto da professora, mas da estrela que acabei de ver se apagar. Estava olhando somente para ela, prestando atenção em seus movimentos, e ela sumiu. Era tão bela, com seus traços circulares e seus braços brilhantes, quase desejei tê-la, a estrela. Quando não fazia a “tarefinha do lar”, ela mandava levar um comunicado para mãe, e no outro dia queria a última linha assinada, Maria Nelma. Eu falsificava, minha mãe tem uma letra fácil, ela morreu? Não, não estranhe, eu falo da letra, a portuguesa. Como posso apenas lembrar disso em cima da casa?  Quão belas são as estrelas, quero possuí-las a todo o momento. Queria guardar no bolso. E depois de cavar a terra, lá pertinho da muda de goiaba, plantá-la para ver se cresce, se pulsa, se brilha no chão. Sei que é enorme, mas um pedaço pequeno de estrela ainda seria estrela, minha pequena estrelinha. Quero ser criança de novo, e ver o rosto de Nilza, será que existe rosto igual? Se visse na rua saberia. Crescendo, igual planta, brilhando como luz queimando. Sou tão miúdo diante de tudo, e os pequenos podem desejar sempre. Como queria um pedaço de estrela, para plantar e nascer estrelas em meu quintal.



[Robson W.]


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