25 de novembro de 2010

Noite velha

  
         Durante toda a madrugada chovera. Houvera um interminável estalido noturno. Chuva grossa e forte; água que mata e morre chegando ao chão. Por força de expressão era dia. Mas nada havia de claro. Já passara das sete da manhã, mas a negritude não se dissipara. Já deveria ter ido aveludar outros cantos da terra.
         No andar  abaixo ao meu tossia uma senhora, tossia muito mesmo. Caturrava, gruía, vomitava, calava-se, e voltava a repetir tudo aleatoriamente.
Ela poderia morrer a qualquer momento, não que desejasse isto, mas sim, poderia. Queria poder estar do seu lado, deitar no outro lado da cama e escutar de perto ela se esvaindo. Não vejo nada de sinistro nisso. Mas digamos que fosse a hora dela e não pudesse eu fazer absolutamente nada. Queria poder ver a tosse calando o seu pequeno coração, batendo um pouco menos de saudades. E ver enfim, como se comporta alguém no segundo final, em seu último olhar de vida.


[Robson W.]

Ps: Os contos do Poe vem me tirando do eixo, me assusto com isso. :]


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